Quem imaginaria no início dos anos ’80 que uma jovenzinha
branca papel estaria casada e feliz com um rapazinho pardo café com leite até
hoje? Eles começaram a namorar em 1980. Ela tinha 17 e ele 16 anos. Nada de anormal,
eu suponho. Bom, até 1981, quando ficaram ligeiramente grávidos. Conseguem
conceber a ideia do que foi isso na época. Não muito comum. Minha mãe,
estudante de colégio particular. Meu pai na rede pública. “A Dama e o Vagabundo”?
Não, não. Meu pai esteve sempre longe de ser um vagabundo. Desde cedo
trabalhava na alfaiataria do meu avô. Não chegava a ser “Romeu e Julieta”
também..... As famílias não se odiavam... Aliás, bem na verdade, a família do
meu pai nem sabia que ele tinha uma namorada. Quanto muito que era uma menina
de uma família respeitada.
Minha mãe descobriu que estava grávida no primeiro semestre de 1981. O plano era o seguinte: os dois fugiriam de trem para Porto Alegre. Meu pai levava um fogão a gás portátil, um terno para fazer entrevistas de emprego e currículos... Sem contar uma mulher grávida! Apenas um amigo do casal sabia da missão.
Na casa da minha mãe, minha tia, que tinha cerca de 15 anos,
percebeu que o guarda-roupa da sua irmã estava faltando muitas peças de roupa.
Ficou muito claro: “a Regina fugiu”. Minha avó, Chica, na hora foi a casa dos
meus outros avós, pais do meu pai, conferir a história. O fato engraçado era
que a mãe dele dizia: “mas o João Norberto não namora”. Pobre vó Tita, não
sabia que ele namorava a mais de um ano e que inclusive seria pai. Não demorou
para o único cúmplice do casal de fugitivos abrir a boca e para a vó Chica e o
vô Roberto, pai do meu pai, partirem para Alegrete.
Na parada do trem de Alegrete a polícia invadiu os vagões e
achou os dois jovenzinhos. A espera deles estava o querido tio Getúlio, que na
época morava nessa cidade. Logo meus avós chegaram e os trouxeram de volta para
Uruguaiana..... Terminaram com o final feliz? Acho que não.
No dia 24 de julho de 1981 eles se casaram, em uma cerimônia
simples. Minha mãe vestia azul, já que carregava um bebê na barriga; seria um
tanto quanto contraditório vestir branco. Muitos casamentos que começam assim
são fadados a terem um fim rápido ou pior, um fim demorado e dolorido. É
espantoso como eles estão hoje completando 32 anos de casados, com uma família
estruturada. Daquela barriga que apareceu em 1981, eu saí em 1982. Gosto de
pensar que fui o “empurãozinho” para o casamento. Depois veio a Karina, o
Bernardo, e agora a netinha Martina.
Me pergunto: será que se eles não tivessem a
responsabilidade de um bebê, eles se casariam mesmo assim? Sabe o quê? Depois
desses 32 anos, não tenho dúvidas de que a resposta é “sim”.
Parabéns pai e mãe por mais um aniversário de casamento. Amo
vocês.
Beijos,
Léo xx
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