quarta-feira, 24 de julho de 2013

A DAMA E O VAGABUNDO, O TREM E O VESTIDO AZUL




Quem imaginaria no início dos anos ’80 que uma jovenzinha branca papel estaria casada e feliz com um rapazinho pardo café com leite até hoje? Eles começaram a namorar em 1980. Ela tinha 17 e ele 16 anos. Nada de anormal, eu suponho. Bom, até 1981, quando ficaram ligeiramente grávidos. Conseguem conceber a ideia do que foi isso na época. Não muito comum. Minha mãe, estudante de colégio particular. Meu pai na rede pública. “A Dama e o Vagabundo”? Não, não. Meu pai esteve sempre longe de ser um vagabundo. Desde cedo trabalhava na alfaiataria do meu avô. Não chegava a ser “Romeu e Julieta” também..... As famílias não se odiavam... Aliás, bem na verdade, a família do meu pai nem sabia que ele tinha uma namorada. Quanto muito que era uma menina de uma família respeitada.


Minha mãe descobriu que estava grávida no primeiro semestre de 1981. O plano era o seguinte: os dois fugiriam de trem para Porto Alegre. Meu pai levava um fogão a gás portátil, um terno para fazer entrevistas de emprego e currículos... Sem contar uma mulher grávida! Apenas um amigo do casal sabia da missão. 

Na casa da minha mãe, minha tia, que tinha cerca de 15 anos, percebeu que o guarda-roupa da sua irmã estava faltando muitas peças de roupa. Ficou muito claro: “a Regina fugiu”. Minha avó, Chica, na hora foi a casa dos meus outros avós, pais do meu pai, conferir a história. O fato engraçado era que a mãe dele dizia: “mas o João Norberto não namora”. Pobre vó Tita, não sabia que ele namorava a mais de um ano e que inclusive seria pai. Não demorou para o único cúmplice do casal de fugitivos abrir a boca e para a vó Chica e o vô Roberto, pai do meu pai, partirem para Alegrete.

Na parada do trem de Alegrete a polícia invadiu os vagões e achou os dois jovenzinhos. A espera deles estava o querido tio Getúlio, que na época morava nessa cidade. Logo meus avós chegaram e os trouxeram de volta para Uruguaiana..... Terminaram com o final feliz? Acho que não.


No dia 24 de julho de 1981 eles se casaram, em uma cerimônia simples. Minha mãe vestia azul, já que carregava um bebê na barriga; seria um tanto quanto contraditório vestir branco. Muitos casamentos que começam assim são fadados a terem um fim rápido ou pior, um fim demorado e dolorido. É espantoso como eles estão hoje completando 32 anos de casados, com uma família estruturada. Daquela barriga que apareceu em 1981, eu saí em 1982. Gosto de pensar que fui o “empurãozinho” para o casamento. Depois veio a Karina, o Bernardo, e agora a netinha Martina.

Me pergunto: será que se eles não tivessem a responsabilidade de um bebê, eles se casariam mesmo assim? Sabe o quê? Depois desses 32 anos, não tenho dúvidas de que a resposta é “sim”.

Parabéns pai e mãe por mais um aniversário de casamento. Amo vocês.

Beijos,

Léo xx

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A INOCÊNCIA, A INFÂNCIA E A SUJEIRA


Ah minha inocência! Saudades do tempo que nada era problema. Que a vida era linda e a única preocupação era estudar. Quem não sente falta disso? Acho que todo mundo. Quando somos crianças não temos idéia do quanto o Mundo é cruel. E entrar no seu ritmo pode ser doloroso e frustrante. Já não se tem mais tempo para os desenhos animados.... Ficar horas brincando com super-heróis e ainda, eventualmente, tentar ser um deles. A vida te ensina a ser adulto, mas não há nada mais lindo que ser criança.


De fato eu sigo ainda com costumes de crianças, coleciono brinquedos, desenhos animados, desenho super-heróis, e confesso, às vezes continuo me imaginando sendo uns deles. Ainda mais se levar em conta que muitos dos que eu desenho atualmente são de minha criação.  Mas seria eu uma criança grande? Até poderia. Mas faltaria o principal, que é o que faz de uma criança, uma criança: a inocência. Já sei que o Mundo não é tão lindo como eu pensava. Já sei que nem sempre as coisas são como eu gostaria. Aprendi que o ódio faz parte do cotidiano e temos que conviver com ele, infelizmente.


Porém a inocência que me refiro não é só essa. Não é só a maneira de ver o Mundo que nos rodeia. É a inocência de se ver e saber que está diferente no seu mais interno íntimo. Saber que fez coisas que te sujaram e te deixaram marcas que não tem como apagar. O tempo passa, você assimila o que fez, aprende com os erros, mas não pode apagar. Não existe uma maneira de deletar atitudes erradas que você cometeu, especialmente se elas agrediram a você. Não quero que pensem que me torturo pelos meus erros, não é isso. Eles me fizeram crescer. Mas esse crescimento me custou a saudosa inocência. Lembro exatamente do dia que perdi a última gota que tinha dela. Me senti sujo e podre.

Hoje eu sei que não tenho como recuperar a minha inocência na sua totalidade, mas posso tentar o meu melhor para chegar perto do que um dia eu fui. “Eu sou criança e não conheço a verdade”..... Hoje eu não sou mais criança e já conheço a verdade. Pelo menos a verdade necessária para me sentir limpo.



Beijos, Léo xx

sábado, 20 de abril de 2013

A ESTRELA, A EXPLOSÃO E A SEREIA


Fevereiro de 1994.

Época de veraneio. Minha vó me fez um pedido antes de eu viajar. “Me traz uma estrela do mar, pode ser de qualquer tamanho.”
Eu juro que vasculhei todas aquelas lojas de lembranças de Torres (RS) e não encontrei nada, as únicas que tinham eram muito caras para o meu bolso. Eu a deixei na mão.

30 de Novembro de 1994.

Você nunca sabe quando será a última vez que vai ver uma pessoa querida. 1994 foi o ano mais marcante da minha vida, por vários motivos, alguns muito positivos, como o nascimento do meu irmão, e alguns muito negativos.
Como eu era o típico CDF durante o ensino fundamental, no final de Novembro de 1994 eu já estava praticamente de férias. Como de costume já estava fazia uma semana posando na casa da minha vó, mãe de meu pai. Eu me mudava para lá de mala e cuia. Meu tio mais novo tinha dois anos a menos que eu, então nós éramos muito amigos. Mas o fato é que independente se ele tinha a programação dele, eu tinha a minha programação com ela. Na manhã do dia 30 de Novembro meu pai me acordou perto do meio dia. Eu deveria ir para casa, eu já estava fazia uma semana fora. Eu pedi para ficar mais, mas ele disse, “sua mãe disse para você posar ao menos hoje em casa, amanhã você volta”. Porém, eu estava confiante na possibilidade de voltar e dormir na casa que eu tanto amava, com minha vó que eu tanto amava, já que todos estavam programando uma janta lá mais tarde. Meu plano era: eu vou e fico.
Meio dia eu fui esperar meu pai próximo ao carro, que estava dobrando a esquina. Nisso minha vó passou, também ia pegar o carro dela que estava em uma garagem próxima. Ela vestia uma calça roxa, com uma camisa que tinha tantas cores que nem poderia escrever aqui. Eu amo roxo.
Foi a última vez que eu a vi.


Fui para casa. A janta foi cancelada, e decidi tomar banho. Quando estava no chuveiro escutei um estrondo. Um estouro muito forte. Foi o dia que Uruguaiana tremeu. Quando eu poderia imaginar que esse barulho era na realidade uma explosão da casa ao lado da casa da minha vó, 10 quilômetros de distância da minha casa? Além de ser a casa da minha vó, era também, na frente, a loja onde meu pai trabalhava, a Casa do Pescador. Meu mundo caiu. Um enorme cogumelo de fogo tomou conta do centro da cidade. Meu avô tinha saído para jogar pôquer, meu tio saiu junto dele. Ela ficou sozinha. Perto das 2h da manhã do dia 1ª de Dezembro uma vítima da tragédia foi encontrada com vida. Meu pai, que estava nas buscas pela sua mãe se encheu de esperanças... Mal sabia ele que pouco depois a encontraria, morta.


Fevereiro de 1996.

Obviamente após a explosão que mudou a nossa vida, emocionalmente e financeiramente, nós não fomos para praia no ano seguinte. Mas fomos em 1996. Para relaxar depois das conseqüências de um ano pavoroso. Quando chegamos em Ingleses (SC), logo no primeiro momento decidimos ver o mar. Para minha surpresa a primeira coisa que eu vi foi uma estrela do mar. Então eu peguei ela, trouxe para Uruguaiana e levei no túmulo da minha vó. Foi um presente tardio, mas cheio de boas intenções. Para mim contou muito.

Ondina, o nome dela, é a sereia/nereida de água doce. As ninfas dos rios. Minha vó fazia jus ao seu nome: era uma linda sereia, colorida que vivia cantando e espalhando amor. Pouco tempo atrás, fiz uma tatuagem em sua homenagem. Tatuei uma sereia colorida no quadril, com uma pequena estrela do mar junto de seu apelido “Tita”. Eu tenho ela marcada no meu coração e tatuada no meu corpo. Não há um dia que eu não lembre dela. Minha linda sereia colorida e poderosa. Já dizia em sua música favorita, "o meu coração chora a falta de você".



Beijos, Léo xx

quinta-feira, 11 de abril de 2013

BEM-ME-QUER, MAL EU QUERO


Quando me perguntam sobre o que eu penso sobre amor à primeira vista eu sempre digo: eu acredito piamente. Eu digo que acredito já que comigo é assim. Aliás, comigo só funciona assim. As vezes gostaria que não fosse. Se eu coloco o olho que não dá aquele brilho especial de primeira, nem adianta tentar evoluir. Eu me conheço. Já tentei mil e uma vezes e não tem como. É perda de tempo apenas. A pior, quando esse brilho não aparece eu sou capaz de jogar que a pessoa vai se apaixonar por mim. Alguém sabe me dizer qual o fundamento disso? Sempre é assim. Já tentei, tentei e tentei. Não dá mesmo.

O pior de tudo é que normalmente o cara é "tudo que qualquer um pediu para casar". Ou seja, a chance certa pra construir algo interessante e de longa data. É o que todo mundo quer, não é mesmo?

Mas então, apesar das maiorias das vezes o brilho não aparecer pra mim, quando aparece vem como um furacão. E aí não tenho como controlar. Simplesmente gosto como se a pessoa fizesse parte da minha vida e não pudesse mais sair dela. Forte isso. Fora de controle e quase destrutivo. Digo destrutivo por que se o brilho aparecer para a pessoa mais cafajeste do mundo, eu ainda assim vou achar tudo bonitinho e engraçado. Mas no fim, o brilho nunca é correspondido!




Mas sabem o que eu penso sobre isso? Eu acho que um pouco é a minha cidade. Cidade do interior. Por exemplo: se eu estivesse em Porto Alegre, nossa capital, eu teria várias festas GLBT com muitas pessoas e a chance desse brilho ser recíproco é maior. Afinal, são vários gays no mesmo local, com a possibilidade de encontrar um diferente em cada fim de semana, o que torna a probabilidade favorável. Já aqui, todos se conhecem e quando aparece um novato é agarrado com unhas e dentes. No fim, os que já se conhecem, mesmo sem brilho, tentam fugir da inevitável solteirice. Em vão, já que os relacionamentos duram pouco por que não tem amor.

Já me prometi se só vou atrás do brilho de hoje em diante. Antes eu me permitia tentar fazer o brilho ascender na marra, hoje sei que não dá. Isso se chama comodismo e aceitação. Não quero me acostumar, quero amar. Porém, confesso que cansei um pouco de brilhar sozinho. Por isso eu acho que, enquanto não há um brilho mútuo, eu prefiro seguir como estou, apagado. Tá bom assim.

Beijos, Léo xxx

sábado, 6 de abril de 2013

O RELATO DE UM HÉTERO PREOCUPADO


"O mundo está mesmo perdido.... Não se pode fazer mais nada sem ter viados por perto... Imagine só, a máfia gay está destruindo a família..... 

Outro dia bateram com uma lâmpada num casal heterossexual só por que estavam andando de mãos dadas, vê se isso é coisa que se faça. Eles cortaram a orelha de um homem que estava abraçado em sua filha, os confundindo com um casal normal. Eles saem de carro a noite batendo em jovens machos, varões. Eles entram em casas de famílias bem estruturadas e colocam fogo, roubam seus filhos que levam para a escola de transformismo e ainda como se não bastasse, também tiram nossos filhos que são feitos com amor para colocar eles em abrigos de abandonados, onde nunca mais os achamos. Eles também tem as suas amigas putas que praticamente obrigam os homens pais de família tementes a Deus a trair as suas esposas. 

Agora querem se casar.... Mas me digam? Como vamos poder continuar as nossas vidas sabendo que existem pessoas do mesmo sexo casando e morando junto? Como haverá a perpetuação da espécie? 

Além disso eles querem privilégios.... Não basta viverem suas depravações em 4 paredes? Eles precisam fazer sexo ao ar livre em praças. E saem semi-nus na Parada Gay...... Me digam.... Como salvar o mundo dessa doença? Daqui a pouco vai ser obrigado ser viado!" 

É bem assim. 

Só que não. 

Beijos, Léo xxx

domingo, 31 de março de 2013

A PRINCESA E O FUTURO


Feliz Páscoa! Faz muito tempo desde a minha última postagem... Muito mesmo! Trabalho, trabalho e trabalho... Na correria do dia a dia fica mais difícil tirar um tempo para escrever, mas hoje finalmente saiu.

A última vez que escrevi aqui eu tinha 29 anos.... Hoje já tenho 31. Por incrível que pareça muita coisa aconteceu. Coisas boas, coisas ruins, coisas. Pensando bem, foram mais coisas boas do que ruins.

Uma coisa muito boa pra contar é que no dia 30 de agosto do ano passado nasceu minha linda e primeira sobrinha, a princesa Martina. Minha afilhada também, diga-se de passagem. Quando nasceu a Martina eu pude ter uma idéia do que um pai deve sentir em relação a um filho. No dia que ela veio ao mundo, um amor incondicional nasceu ao mesmo tempo. Tão grandioso e instantâneo que nem tem como escrever. É filha da minha irmã, mas eu tenho como se fosse minha.... Padrinho é o segundo pai.... Não é?

 

Talvez o fato de que possivelmente eu não vá ter filhos ajude a esse amor ser maior do que normalmente seria. Talvez seja uma forma de compensar esse desejo e sonho não concluído. Aliás, não concluído, porém não abandonado.

Um filho está nos planos..... Na verdade eu estipulei uma meta: daqui no máximo seis anos eu tenho que ser pai. Claro que para isso eu tenho que ter uma estabilidade financeira melhor, já que uma criança é uma responsabilidade para o resto da vida. Ah, e tenho que ter uma mãe para a criança também, algo que já está se encaminhando. “Como assim Léo? Virou heterossexual??” Não gente, sigo sendo o mesmo. Mas é impossível ter um filho sem que ele saia da barriga de uma mulher. “Barriga de aluguel Léo?” Não também, o que eu espero é que uma amiga minha, que também pretende ter um filho entre nessa empreitada. “Mas qual o motivo de ter que ser até no máximo seis anos?” Pelo simples fato de que eu percebi que depois dos 30 anos o tempo voa ainda mais depressa. Começou a fase do é agora ou nunca. Ou vai ou vai. Quero ser um pai com pique para participar da vida da criança. E ter um primeiro e provavelmente único filho com quarenta anos não me parece o ideal.

Além disso, tenho que esperar algumas coisas acontecerem. Estou trabalhando bastante, mas em julho me formo em Bacharel em Educação Física (lembram que postei quando iniciei?), então muitas portas vão se abrir. Pelo menos assim espero. Fora isso, estou me dedicando em concursos, que são a melhor fonte de estabilidade hoje em dia, e uma garantia de poder ser ativo financeiramente na criação de uma criança. Então enquanto o Romeu ou a Victoria Cezimbra não chegam, vou dar todo o amor para a minha eterna primeira princesa. Um “amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete”, como diz a canção.



Bom, por hoje é só meninos e meninas.
Feliz Páscoa para todos!
Volto muito em breve (de verdade desta vez)
Beijos, Léo xx

domingo, 23 de outubro de 2011

FAMÍLIA = ?


Nesse mês de Outubro o Partido Social Cristão mostrou para o Brasil suas novas propagandas políticas, com destaque para a família... Os valores, conduta, formação, etc.... Uma polêmica se formou, o partido é claro quando demonstra que "Homem + Mulher + Amor = Família". Confira:





Como quase sempre acontece quando uma classe e/ou grupo de pessoas se sentem prejudicadas, grupos que defendem os direitos da comunidade GLBT criticaram a propaganda, já que nos dias atuais o conceito de família não se restringe apenas em um homem e uma mulher.


Uma porção de pessoas ficaram a favor da comunidade GLBT, assim como uma porção ficaram a favor do PSC. Alguns manifestantes se posicionaram achando que a propaganda foi homofóbica... O que na minha opinião não foi... Mas foi sim, discriminatória e exclusiva. Uma coisa é não aceitar e/ou não gostar que existam outras formas de família além da tradicional, outra coisa é negar que elas existam.
Ao meu entender, família é um conjunto de pessoas que vivem em conjunto com vínculos afetivos. Pensando assim, a propaganda se torna tão mal feitas que descarta a possibilidade inclusive de país solteiros héteros construírem uma família..... Assim como casais gays... Assim como avós que criam seus filhos....
Religiosos mais conservadores afirmam que família só pode ser constituída por um homem e uma mulher, já que só assim é feita a reprodução. Bom, até então eu não sabia que procriação é sinônimo de família. Se fosse assim, por qual motivo tantas crianças param em orfanatos/albergues, para não dizer em lata de lixo... Afinal, aconteceu a cópula... Isso gerou uma família? Não necessariamente. E as pessoas héteros que não podem ter filhos... Que adotam crianças.... Não copularam.... Eles e seus filhos adotivos não são uma família?


Claro que cada um tem seu próprio ponto de vista e é isso que nos faz únicos. Porém, eu penso, e acredito que muitos também, que família é onde o amor está. E isso pode ser construído de várias formas, os gays não estão dizendo que a seu modelo de família é o único que vale. Pode ser com um homem e uma mulher, com homem e outro homem, com mulher e mulher, com pais adotivos, com avós, com mães e pais solteiros (sendo héteros ou homossexuais).
Ninguém quer mudar os valores familiares... Até por que não há valor mais importante para uma família do que amor e respeito.

Beijos, Léo xxx