sábado, 20 de abril de 2013

A ESTRELA, A EXPLOSÃO E A SEREIA


Fevereiro de 1994.

Época de veraneio. Minha vó me fez um pedido antes de eu viajar. “Me traz uma estrela do mar, pode ser de qualquer tamanho.”
Eu juro que vasculhei todas aquelas lojas de lembranças de Torres (RS) e não encontrei nada, as únicas que tinham eram muito caras para o meu bolso. Eu a deixei na mão.

30 de Novembro de 1994.

Você nunca sabe quando será a última vez que vai ver uma pessoa querida. 1994 foi o ano mais marcante da minha vida, por vários motivos, alguns muito positivos, como o nascimento do meu irmão, e alguns muito negativos.
Como eu era o típico CDF durante o ensino fundamental, no final de Novembro de 1994 eu já estava praticamente de férias. Como de costume já estava fazia uma semana posando na casa da minha vó, mãe de meu pai. Eu me mudava para lá de mala e cuia. Meu tio mais novo tinha dois anos a menos que eu, então nós éramos muito amigos. Mas o fato é que independente se ele tinha a programação dele, eu tinha a minha programação com ela. Na manhã do dia 30 de Novembro meu pai me acordou perto do meio dia. Eu deveria ir para casa, eu já estava fazia uma semana fora. Eu pedi para ficar mais, mas ele disse, “sua mãe disse para você posar ao menos hoje em casa, amanhã você volta”. Porém, eu estava confiante na possibilidade de voltar e dormir na casa que eu tanto amava, com minha vó que eu tanto amava, já que todos estavam programando uma janta lá mais tarde. Meu plano era: eu vou e fico.
Meio dia eu fui esperar meu pai próximo ao carro, que estava dobrando a esquina. Nisso minha vó passou, também ia pegar o carro dela que estava em uma garagem próxima. Ela vestia uma calça roxa, com uma camisa que tinha tantas cores que nem poderia escrever aqui. Eu amo roxo.
Foi a última vez que eu a vi.


Fui para casa. A janta foi cancelada, e decidi tomar banho. Quando estava no chuveiro escutei um estrondo. Um estouro muito forte. Foi o dia que Uruguaiana tremeu. Quando eu poderia imaginar que esse barulho era na realidade uma explosão da casa ao lado da casa da minha vó, 10 quilômetros de distância da minha casa? Além de ser a casa da minha vó, era também, na frente, a loja onde meu pai trabalhava, a Casa do Pescador. Meu mundo caiu. Um enorme cogumelo de fogo tomou conta do centro da cidade. Meu avô tinha saído para jogar pôquer, meu tio saiu junto dele. Ela ficou sozinha. Perto das 2h da manhã do dia 1ª de Dezembro uma vítima da tragédia foi encontrada com vida. Meu pai, que estava nas buscas pela sua mãe se encheu de esperanças... Mal sabia ele que pouco depois a encontraria, morta.


Fevereiro de 1996.

Obviamente após a explosão que mudou a nossa vida, emocionalmente e financeiramente, nós não fomos para praia no ano seguinte. Mas fomos em 1996. Para relaxar depois das conseqüências de um ano pavoroso. Quando chegamos em Ingleses (SC), logo no primeiro momento decidimos ver o mar. Para minha surpresa a primeira coisa que eu vi foi uma estrela do mar. Então eu peguei ela, trouxe para Uruguaiana e levei no túmulo da minha vó. Foi um presente tardio, mas cheio de boas intenções. Para mim contou muito.

Ondina, o nome dela, é a sereia/nereida de água doce. As ninfas dos rios. Minha vó fazia jus ao seu nome: era uma linda sereia, colorida que vivia cantando e espalhando amor. Pouco tempo atrás, fiz uma tatuagem em sua homenagem. Tatuei uma sereia colorida no quadril, com uma pequena estrela do mar junto de seu apelido “Tita”. Eu tenho ela marcada no meu coração e tatuada no meu corpo. Não há um dia que eu não lembre dela. Minha linda sereia colorida e poderosa. Já dizia em sua música favorita, "o meu coração chora a falta de você".



Beijos, Léo xx

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